MORTE DE LINDOIA - José Basílio da Gama
Um frio susto corre pelas veias
De Caitutu que deixa os seus no campo;
E a irmã por entre as sombras do arvoredo
Busca com a vista, e treme de encontrá-la.
Entraram enfim na mais remota, e interna
Parte de antigo bosque, escuro e negro,
Onde, ao pé duma lapa cavernosa,
Cobre uma rouca fonte,que murmura,
Curva latada e jasmins e rosas.
Este lugar delicioso e triste,
Cansado de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha face na mão e a mão no tronco
Dum fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chama-lá e temem
Que desperte assustada e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açoita o campo com a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao desperta-lá
Conhece, com que dor! No frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua,
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O aleio crime, e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado, e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!
Análise:
“A morte de Lindoia” é
um trecho tirado de “Uruguai”, cujo autor é José Basílio da
Gama. Trata-se de uma poesia épica, centrada no tema do
descobrimento e colonização dos países da América latina. Esse
trecho conta o caso da esposa do cacique da tribo, que após este ter
sido assassinado, ela prefere morrer por amor à casar-se novamente.
Podemos então, perceber no poema características árcades, como
uma imensa riqueza de detalhes, exaltação da natureza e também da
essência natural do homem.
É um belíssimo texto.
(O texto ficou desconfigurado por problemas no computador).
Maria
Clara Menezes
Uma das características do arcadismo é a referência à natureza, ele cita no texto elementos naturais como flores e troncos.
ResponderExcluirNeste treco do poema Lindoia se mostra muito triste, e acaba escolhendo a morte, sendo atacada por uma cobra.
Achei um belo texto e triste, por ela ter perdido seu esposo escolheu morrer do que viver ao lado de outro homem.
Maria Eduarda Porteles
Percebam o grau imagético de tal pintura: a lasciva morte por uma serpente, ao centro dum Éden, inserindo no seio de uma índia o remédio contra a melancolia que lhe impôs Amor.
ResponderExcluirEmerson Vinhosa
Concordo com as análises anteriores em questões da interpretação. Achei interessante esse amor que Lindóia tinha por seu esposo, tanto que, quando ele morreu, ela preferiu escolher a morte à ficar ao lado de outro homem. E vale ressaltar a predominância da exaltação da natureza presente nos poemas árcades, esse olhar bucólico dos poetas para com o mundo. Sempre usando elementos da natureza, como: animais (a verde serpente) e a branda relva.
ResponderExcluirPedro Henrique Soares
Em ''Uruguai'' encontramos variedade, fluidez, movimento, sínteses admiráveis caracterizam os decassílabos do poema, não obstante equilibrados e serenos. Ele é o modelo do decassílabo solto dos românticos.É interessante ressaltar também a ausência de estrofes regulares, os versos brancos (sem rima), o vigor descritivo. Poema muito lindo e ao mesmo tempo triste como bem disse a Maria Eduarda.
ResponderExcluirNaara Silva
Já conhecia esse belo poema! Ele Narra principalmente a morte da índia LINDOIA. Ela para não se entregar a outro homem, deixa-se picar por uma serpente. A figura do índio é vista como "bom selvagem", exaltando todo bem natural.
ResponderExcluirPedro Rodrigues.
Há trechos copiados da internet sem referência. Isso é plágio e é muito grave.
ResponderExcluirO nome da obra é "O Uraguai" e não "O Uruguai", como vocês disseram.
ResponderExcluirTens razão, é Uraguai e este é o canto IV.
ExcluirUm belo poema a imagética visão "bucolesca" que o autor derrama na obra é de uma significância ímpar...naturalmente natural e assim o Arcadismo bem representado em mais um recorte literário de peso.
ResponderExcluir