segunda-feira, 7 de novembro de 2016

FREI JOSÉ DE SANTA RITA DURÃO.

CANTO VI
XXXVII

Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
Pasma da turba feminil que nada.
Uma, que às mais procede em gentileza,
Não vinha menos bela que irada,
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.

XXXVIII

"- Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças amor que enfim o domem;
Só a ti não domou por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos,que o ar consomem.
Como não consumis aquele infame?
Mas apagar tanto amor com tédio e asco...
Ah que o corisco és tu...raio... penhasco?

(...)

XLI

Enfim, tens coração de ver-me aflita,
flutuar moribunda entre estas ondas;
nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente com que aos meus respondas!
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
(Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas!
Dispara sobre mim teu cruel raio..."
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.

XLII

Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
-Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa ,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n'água.

ANÁLISE: O trecho do canto, segue a estrutura dos versos camonianos e da epopeia clássica, com fortes influências da mitologia grega. Nele é narrada a morte da Índia Moema, em uma descrição muito bela. De acordo com as características árcades, a índia reflete o ideal do bom selvagem iluminista. Faz-se uma sátira política à opressão portuguesa e a corrupção colonial. Este canto pertencente ao poema " CARAMURU", também faz um balanço da colonização em meio a uma descrição hiperbólica da natureza.
  Pedro Rodrigues.


7 comentários:

  1. Este trecho descreve com uma riqueza de detalhes a morte da índia Moema. O poema segue o modelo Camoniano, utilizando as regras usada em os Lusíadas com 10 cantos, estrofes de 8 versos, esquema de rima ABABABCC.
    Maria Eduarda Porteles

    ResponderExcluir
  2. O poema "Caramuru" é uma narrativa enriquecida com referência a fatos históricos, desde o descobrimento até a época do autor.
    O canto VI narra o falecimento de Moema, uma índia belíssima que tinha um amor não correspondido por Caramuru, e morre caindo no mar.
    Gostaria de destacar uma expressão em latim muito comum no arcadismo: "Inutilia truncat". Ela significa "cortar o inútil" e faz menção a cortar os excessos que eram praticados na escola literária anterior: o Barroco, que usava de grandes inversões, hipérboles, palavras e raciocínios complicados,obscuros. O arcadismo foi contra isso, ao pregar o "corte do inútil", valia-se de pensamentos e construções mais simples, diretas e claras.
    Maria Clara Menezes

    ResponderExcluir
  3. O poema Caramuru narra o descobrimento da Bahia, o naufrágio de Diogo Álvares Correia e seus amores com as índias. O material é amplo: tem desde fatos da história do Brasil, o temperamento indígena, até lendas.
    Emerson Vinhosa

    ResponderExcluir
  4. Esse poema apresenta um material amplo, como já destacado pelo aluno Emerson, que abrange desde fatos da história do Brasil, o temperamento indígena, até lendas. O Canto VI trata da morte de Moema, uma índia que não tinha como correspondido seu amor por Caramuru. Ela morre caindo no mar. Além do texto também narrar o descobrimento da Bahia e o naufrágio de Diogo Álvares Correia.
    Pedro Henrique Soares

    ResponderExcluir
  5. Caramuru tem como assunto a história da Bahia e o retrato do desenvolvimento do Brasil nos primeiros momentos de vida. Um dos fatores mais atraentes é a riqueza de detalhes da flora e da fauna brasileiras, bem como a minuciosa descrição das nações indígenas e de seus costumes. Todos os seus cantos referem-se a inúmeros contextos culturais e literários, com os quais dialogam. Somos convidados, ao longo do poema, a penetrar nesse universo de religiosidade, amor, colonização, guerra, encontros, separações, morte e criação, pelas mãos de Diogo Álvares. Ou pelas impressões e intenções de Santa Rita Durão.
    Naara Silva

    ResponderExcluir
  6. Não encontrei a biografia dos 4 autores. Era atividade para esta semana.

    ResponderExcluir