sábado, 8 de outubro de 2016

À mesma D. Ângela - Gregório de Matos

À mesma D. Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
De verde pé, da rama fluorescente;
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda

Análise do poema

O soneto mostra-se paradoxal em uma contradição que organiza o poema todo com uma figura feminina que é ao mesmo tempo anjo e flor, espírito e matéria. 
Neste soneto Gregório mostra-se um poeta lírico falando de sua amada. Revela muito do estilo cultista por meio do jogo de palavras usado: “Ângela” = “Angélica” = “Anjo”, “flor” = “florente”, seguindo a tradição de Camões ao comparar a beleza da mulher à natureza. O seu tema central é a contradição da mulher Ângela, que no poema é colocada no lugar da flor (metáfora da beleza), o objeto do desejo e em ''anjo'' metáfora de pureza e símbolo da elevação espiritual, no qual ocorre o uso de vários trocadilhos. Angélica (que é pura como um anjo e ao mesmo tempo é o nome de uma flor que inspira sensualidade) trata-se de uma mulher que tem uma feição angelical tão bela e amorosa que passa a ideia de uma flor por ser muito delicada. Uma imagem de mulher construída a partir de duas palavras, que é associada ao seu nome e ao seu rosto: flor “Angélica na cara” e anjo “Anjo no nome”. Aqui podemos perceber a presença de uma contradição, já que a mulher amada é um anjo (plano espiritual) e flor (plano material). A sua imagem é a de um anjo, mas que tenta e não guarda, mostrando assim um grande toque barroco aparente no jogo de contradição revelado. Se essa mulher é um anjo, como é possível que, em lugar de garantir proteção, cause apenas tentação ao lírico? A contradição entre o amar e o querer desemboca no paradoxo dos versos finais: “Sois anjos, que me tenta, e não me guarda”. Assim o louvor e a exaltação de uma beleza angelical termina com uma tentação demoníaca e que gera a imagem angelical feminina, e a tentação da carne que atormenta o espírito.

Naara Silva 

8 comentários:

  1. No soneto percebe-se de cara,um aspecto barroco voltado para o jogo de palavras: o cultismo. Como em outros poemas de Gregório, esse também há contradiçao, que parte do poeta para mulher Ângela, que metaforicamente falando é tida como flor. O amar e o querer, representam aspectos contraditórios, que darão o desfecho da história. Pedro Rodrigues.

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  2. Assim como dito nas análises anteriores, o soneto é riquíssimo de características barrocas. Ao iniciar a leitura, ja podemos perceber uma contradição, que assim como Naara mencionou, organiza o poema como um todo. Essa oposição se fortalece no final da última estrofe, em que o eu do poema afirma com uma metáfora "sois anjo, que me tenta, e não me guarda".
    Maria Clara Menezes

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  3. Como Naara disse,nesse soneto, nota-se um paradoxo, uma contradição que organiza o poema como um todo: a figura feminina é, ao mesmo tempo, anjo e flor, espírito e matéria. Essa oposição complementar atinge seu ápice no fechamento da última estrofe, em que o eu do poema afirma: "Sois anjo, que me tenta, e não me guarda". O feminino, portanto, eleva-se ao plano celestial, mas conserva em si a tentação como característica fundamental.
    Emerson Vinhosa

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  4. Assim como os outros já comentaram em suas análises, o texto apresenta uma das características marcantes no barroco, que é o cultismo.
    No texto o autor enaltece a mulher, a chamando de anjo, que é uma figura celestial.
    Maria Eduarda Porteles

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  5. Percebe-se um paradoxo no texto, a contradição que organiza o texto como um todo, assim como já destacado nas análises anteriores. Além disso, também há a presença da metáfora nesse texto quando compara a mulher com um anjo.
    Pedro Henrique Soares

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  6. Percebe-se um paradoxo no texto, a contradição que organiza o texto como um todo, assim como já destacado nas análises anteriores. Além disso, também há a presença da metáfora nesse texto quando compara a mulher com um anjo.
    Pedro Henrique Soares

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  7. Excelente análise. Percebi pelos comentários que alguns alunos não entenderam bem o texto. O autor compara mesmo a mulher à figura de um anjo celestial? Pensem sobre isso!

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  8. Então é uma exposição de temas opostos= Barroco. É uma metáfora e antítese ou paradoxo.

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